Quando se fala de Sintra do séc. XIX Byron, é, indubitavelmente, a figura mais recorrente, e onde, aliás, terá escrito uma parte seu Child Harold Pilgrimage, obra apenas editada em 1812, aí dedicando-lhe alguns versos.
![]() |
Sintra - Séc. XIX |
"Eis Cintra e o seu Éden resplandecente surgindo num labirinto multicor de montes e vales (...) Um convento empoleirado no topo de horríveis penhascos, os sobreiros brancos de geada cobrindo as escarpas da encosta, o musgo da serra crestado pelo sol abrasador, o vale sombrio de profundos arbustos inclinados, o meigo azul do mar sereno, as matizes alaranjadas que doiram o mais verde ramo, as torrentes que se precipitam das alturas para os vales, as vinhas lá no alto e por baixo ramos de salgueiros - tudo se combina num cenário grandioso de variedade e beleza."Childe Harold´s Pilgrimage", Canto I, Estrofes XVIII, XIX).
Na segunda feira, 12 de Julho de 1809, deslocaram-se numa caleche rumo Sintra, avistando o palácio de Marialva e o palácio e jardins de Monserrate, palácio onde anteriormente um outro viajante inglês, William Beckford havia vivido, agora deserto. A sua estadia em Sintra durou apenas quatro dias, ficando instalado no Lawrence Hotel.
Hobhouse: na terça feira, 13 de Julho: (...) "de burro, fomos a Nossa Senhora da Pena, ao Mosteiro de S. Jerónimo e ao Cork Convent (Capuchos?) na parte mais alta da região, com 17 franciscanos que não comiam carne nem bebiam vinho e se flagelavam. Descemos então até Colares, bela vila, com vinho abundante, clarete, e tornámos a Monserrate, um palácio só excedido pelo de Marialva em Sintra. Aí jantámos com o bom reverendo Turner. Noite em Sintra.
Na quarta feira, 14 de Julho de 1809, fomos, com Byron, e por sugestão da irmã de Marialva, visitar o seu palácio (Seteais), ricamente decorado em estilo inglês e estivemos na sala onde foi assinada a famosa Convenção de Sintra. Dissémos adeus a Sintra, onde havia no hotel vários hóspedes embriagados e uma mulher suja, irlandesa, nos entregou uma conta monstruosa."
A 16 de Julho Byron escrevia para Inglaterra:
Ao sr. Hodgson, Lisboa, 16 de Julho de 1809.
Ao sr. Hodgson, Lisboa, 16 de Julho de 1809.
"Até ao momento temos seguido a nossa rota, e visto todo o tipo de panorâmicas maravilhosas, palácios, conventos, etc. o que, estando para ser contado na próxima obra, Book off Travelers, do meu amigo Hobhouse, eu não me anteciparei, por agora, de forma antecipada e clandestina.. (...) Devo apenas observar que a vila de Cintra, na Estremadura, é talvez a mais bela do mundo.
Sinto-e muito feliz aqui porque adoro laranjas e falo em Latim macarrónico com os monges, que o compreendem, uma vez que é como o deles, e frequento a sociedade (com as minhas pistolas de bolso e nado ao longo do Tejo, e monto em burros ou mulas (...) Quão alegremente vivemos quando somos viajantes - se tivermos comida e vestuário. Mas, em sóbria tristeza, qualquer coisa é melhor que Inglaterra e eu estou infinitamente divertido com a minha peregrinação, até ao momento. Amanhã começaremos a percorrer cerca de 400 milhas até Gibraltar, onde embarcaremos para Melita (Melilla?) e Bizâncio. Uma carta para Malta aí me encontrará..."
![]() |
Seteais Sec. XIX |
Três semanas depois da chegada a Lisboa, Byron e Hobhouse deixaram os aposentos de Buenos Aires em direcção ao cais; em breve atravessaram o Tejo a caminho da fronteira espanhola e do Mediterrâneo.
Após aquela primeira experiência em terra alheia, com eles seguia o inquieto Cavaleiro Haroldo, como um Ulisses sem Ítaca, romântico condenado a descobrir e a descobrir-se na peregrinação incessante pelos caminhos da poesia e da vida.