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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Porquê Osberno?






Desde sempre me interessaram os temas ligados a Lisboa. Sendo autodidata procurei, sem muita disciplina cronológica, reunir conhecimentos sobre a cidade que me adotou.

Quando, por qualquer razão, temos de escolher um pseudónimo procuramos que este esteja associado a algo que nos diz muito e, desde sempre, nunca deixei de valorizar a figura do cruzado Osberno a quem devemos a narrativa da conquista de Lisboa aos mouros, uma vez que foi testemunha presencial deste feito.

Osberno é um personagem histórico associado ao cerco de Lisboa em 1147, em que a cidade foi conquistada aos mouros pelo rei Afonso Henriques. O rei português recebeu a ajuda decisiva de um grande contingente de cruzados do norte da Europa que participavam da Segunda Cruzada, e depois da captura de Lisboa foi escrita uma carta, chamada atualmente De expugnatione Lyxbonensi, a qual narra com muitos detalhes a história do cerco. A narração associada a Osberno, assim como outra carta mais curta do cruzado Arnulfo, são excepcionais como registros contemporâneos desse evento essencial da história das cruzadas e da Reconquista cristã na Península Ibérica.

A carta começa com uma fórmula abreviada de saudação: Osb. de Baldr. R. salutem. As ambiguidades do latim medieval fazem com que seja difícil saber quem foi o autor e quem o destinatário. Tradicionalmente a carta é atribuída a Osb. de Baldr. e é dirigida a R.; porém também é possível que tenha sido escrita por R. e dirigida a Osb.. Este Osb. é justamente Osberno (ou Osberto) de Bawdsey (Suffolk, na Inglaterra). R. é identificado por alguns como um presbítero inglês chamado Raul. A qualidade do latim da carta e as referências eruditas religiosas indicam que o autor era um religioso culto.

A narração associada a Osberno, de imenso valor histórico, faz parte do Códice 470 da Biblioteca do colégio do Corpo de Cristo, daUniversidade de Cambridge e está adaptada para português moderno em várias edições.

Siege of Lisbon - Muslim surrender.jpg
O Cerco de Lisboa por D. Afonso Henriques, por Joaquim Rodrigues Braga.

domingo, 11 de setembro de 2011

Fantasia sobre Lisboa...

Charles Monselet
Século XIX...

Em França, por ocasião de um de um novo itinerário marítimo na Carreira da linha de Hespanha, inaugurada a 25 de Fevereiro de 1862, e, com a entrada em serviço do novo navio Ville de Brest, acabado de construir em Inglaterra, resolveu a companhia de navegação proprietária do navio tomar a iniciativa de convidar algumas personalidades ilustres para o percurso inaugural.

O percurso resumiu-se a um simples passeio de recreio, partindo de Saint-Nazaire, França,  no dia 25 de Fevereiro, ao meio dia, com destino a Cádiz. Daí seria fácil chegar a Sevilha e Córdova, utilizando o caminho de ferro.

Entre os convidados encontrava-se o respeitável Charles Monselet, famoso jornalista, romancista, poeta e autor dramático francês, conhecido pelos seus contemporâneos por rei dos gastrónomos.

Charles Monselet traçou umas impressões de viagem, observando fugasmente Lisboa, através da visão brilhante da sua fantasia. O escritor descreve-a como uma estravagante cidade do país dos sonhos coberta de jardins suspensos como os da Babilónia!

"(...) Causa admiração - refere o Panorama - que os estrangeiros que nos visitam digam de nós e dos nossos costumes as coisas mais imprevistas, quando Monselet, observador notável, demorando-se em Lisboa quatro dias, avista os nossos telhados cobertos de flores, enchendo assim de orgulho a modesta vegetação a que o nosso povo dá o nome familiar de arroz de telhado ou uva de rato?

Concordemos entretanto que Charles Monselet, contemplando algumas horas Lisboa, através do fumo do seu charuto, ao trote de uma carruagem, soube apanhar em flagrante alguns dos traços mais salientes dos nossos costumes, escrevendo uma página que os leitores não deixarão de ler com curiosidade."

Rossio... ainda sem estátua... talvez em 1856.
Diz monselet num artigo publicado uns anos mais tarde no Panorama: " (...) A nossa primeira escala, após três dias de viagem, foi Lisboa. Um belo sol na plena magnificência do ocaso, fez-nos amavelmente as honras da capital Lusitana. A foz do Tejo, tão celebrada, é sem duvida superior à sua reputação: é de um esplendor, de uma amplitude, de uma variedade de perspectivas que obrigam a emudecer o sentimental romance que se balbuciava já! À esquerda o Castelo dos Mouros levantando às nuvens os seus minaretes fantásticos, uma cadeia de muralhas e de torreões em conversão permanente com os Génios. Á direita, num fundo arenoso, prolongamentos de montanhas servindo de refúgio, dizem, a populações um pouco selvagens. Ao longe umas centenas de mastros picando o vapor purpúreo do horizonte, tendo por sentinela avançada a Torre de Belém, a última palavra da arquitectura cavalheiresca. - Sabe-se que Lisboa partilha com Constantinopla e Nápoles a honra de possuir um dos mais belos portos do mundo. Também se orgulha, das suas sete colinas,  sobre as quais se espalham numa encantadora confusão, tantos palácios, igrejas, jardins e casas pintadas de amarelo, verde, vermelho e azul, que bem poderíamos supor saídas de uma imensa écloga pastoril!

Não quero nem posso ser prolixo. Todavia por isso mesmo, que tenho pressa, nutro a pretensão de ver com mais nitidez e de reter com mais força. Tal esboço rápido fala às vezes melhor à minha imaginação do que certa tela retocada. Muitas vezes quem permanece três ou quatro meses num lugar, acaba por perder a percepção dos detalhes. Apenas estive quatro dias em Lisboa: seria pouco certamente para um historiador, ou um arqueólogo; bastante para um pintor ou um cronista.

Vou, por exemplo, tentar reproduzir a fisionomia de uma rua animada de Lisboa. Escolherei a Rua do Ouro ou a Rua da Prata - dois nomes felizes para uma cidade comercial. A rua parte do Tejo e vai até à colina: é longa, é larga, tem passeios mas é calçada no centro com seixos um tanto angulosos. As casas têm quatro ou cinco andares, espaçados entre si, na maior parte coroados com águas furtadas cujo tecto, formados por telhas de um vermelho vivo, se revira aos cantos estilo chinês. Sobre o telhado o vento espalha na primavera sementes que a chuva fecunda, desabrochando depois numa suave florescência. Esta vegetação aérea é de um efeito graciosamente imprevista. Os armazéns - em linguagem portuguesa - ostentam menos elegância: compõem-se cada um de uma pequena loja, estreita, sempre aberta, aonde se perfila um mercador silencioso e aparentemente indiferente às observações do freguês. Este mercador é inevitavelmente ourives nas duas ruas que nomeio. Mercadora não vi nenhuma, o que é digno de reparo e singularmente desgracioso. A rua é sulcada por pessoas do campo montadas em mulas, por mulheres do povo de capote escuro, com cabeção de veludo, por uma quantidade inumerável acarretadores de água, trazendo ao ombro um barril listrado de verde  e cor de laranja, soltando todos os segundos, numa nota aguda, este grito: água! Dois guardas do paço, de calção curto, casaca escarlate atravessada por um boldrié, a alabarda em riste, caminham junto à parede sem demasiada solenidade. Um negro culpado sem dúvida de algum malefício, vai escoltado por caporaes da polícia de sabre nu. À esquina de uma igreja, um sacristão amarelo e verde, pede para as almas do purgatório. Eis um enterro: o carro mortuário, conduzido por um cocheiro coberto com um portentoso chapéu de general, vai ornado de vinhetas lacrimosas, ciprestes, mausoléus, tíbias em cruz. Um garoto não se desvia entretido com um grilo que transporta numa gaiola liliputiana - o grilo representa uma das paixões e uma das superstições do povo de Lisboa: vendem-se às centenas nos mercados, todos inquietos, cantando em grandes caixas entre as folhas de alface que lhes servem de alimento. Há gaiolas de um e dois andares para um ou dois grilos: os operários penduram-nas nas oficinas ou pregam-nas por cima da porta.

Torre de Belém, século XIX
Mas a Rua do Ouro, ou a da Prata, não é verdadeiramente a rua original de Lisboa. Em certos bairros aristocráticos e menos frequentados, encontram-se casas revestidas exteriormente de azulejos, com varandas gradeadas; noutros bairros, principalmente na cidade velha, agrupada em volta da catedral,, tropeça-se com o estilo árabe com todo o seu contraditório. Ali abundam as vielas hediondas, as escadarias viscosas, os buracos prolongando-se na sombra e na miséria os farrapos cruéis, conjuntamente com intermináveis bandos de gatos amarelados, magros,  sem orelhas. Este lado de Lisboa é muito triste e como que para completar o aspecto, um incidente lúgubre me esperava na vasta igreja de S. Vicente. Apenas entrei apontou-me um dos meus companheiros uma banca de pedra à direita. "repare naquela boneca" , disse-me ele. A boneca era uma criança morta. Parece que as mães pobres têm ainda o costume de expôs os filhos mortos, para que sejam enterrados à custa da igreja. Fazem-se todas as diligências para as coibir, mas as tristes chegam com o pequenino cadáver oculto debaixo do capote, espreitam o momento em que tudo está só e fogem depois.

Não demorarei mais tempo as atenções neste quadro repugnante. Prefiro dizer ao leitor, em conclusão, que tem um brilhante aspecto de grande capital esta Lisboa, tão pouco conhecida dos touristes, mesmo dos ingleses. Os passeios assombreados e os jardins, variam o seu carácter monótono; encontra-se até campos cultivados entre dois bairros. Os monumentos são a parte fraca; os estabelecimentos públicos, os teatros, os conventos. Mas o que se pode exigir de uma cidade quase inteiramente reconstruida no fim do século XVIII?"

Aqui fica mais uma visão de Lisboa...


domingo, 4 de setembro de 2011

Ele não descola... (*)



"Isto" não descola...
(...) O ex-primeiro-ministro José Sócrates há-de ter-se despedido dos seus congéneres da União Europeia e de outros dirigentes políticos estrangeiros, nos quinze dias que mediaram entre as eleições de 5 de Junho de 2011, que perdeu, até à tomada de posse do XIX Governo Constitucional, do PSD-CDS, em 21 de Junho de 2011. Se não lhes telefonou, ou não os atendeu quando lhe telefonaram para o consolarem da derrota, foi mal-educado porque era, então e nessa qualidade, que o contacto devia ser feito. Em qualquer caso, a função de primeiro-ministro de José Sócrates terminou em 21 de Junho de 2011 e nenhuma recepção protocolar lhe é devida depois: já não é representante de Portugal, nem sequer líder do Partido Socialista português.

(*) Do Blog "Do Portugal Profundo"

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"Leishmaniose" e passeio...

Quando o tempo "levantou" veio a secura...
Leishmaniose é uma doença infecciosa causada por um microorganismo (protozoário - leishmania), que é transmitida ao cão, a animais silvestres como roedores e também ao homem por um mosquito, o 
flebótomo.
Flebótomo



A leishmaniose canina é transmitida por insectos semelhantes a mosquitos - os flebótomos. Os cães podem apresentar febre, perda de pelo, perda de peso, feridas na pele, problemas nas unhas, anemia, artrite e insuficiência renal grave, e, até morte. Não existe cura. Na Europa 2,5 milhões de cães estão infectados.
Uma vez que a doença é transmitida através das picadas de flebótomos infectados, a protecção mais eficaz, em teoria, passaria por evitar todo e qualquer contacto entre os cães e estes insectos. Na prática, essa solução não é viável para os cães que habitam em zonas endémicas.
Reduzir o habitat dos flebótomos, minimizar o contacto físico, mantendo os cães recolhidos ao entardecer e ao amanhecer – períodos em que os flebótomos estão mais activos – , e utilizar insecticidas (sprays, spot-on, coleiras repelentes, etc.) eram as medidas preventivas disponíveis até há pouco tempo.

A partir de agora está já disponível um novo nível de protecção para os cães. Consulte o o seu veterinário e informe-se sobre a nova vacina contra a leishmaniose canina.

Por isso...

...mesmo com o tempo assim passeámos.

Desloquei-me à Lousã para ministrar à Kamila a segunda de três doses da nova vacina.
E divertimo-nos






































quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Byron em Sintra... - 5

Quando se fala de Sintra do séc. XIX Byron, é, indubitavelmente, a figura mais recorrente, e onde, aliás, terá escrito uma parte seu Child Harold Pilgrimage, obra apenas editada em 1812, aí dedicando-lhe alguns versos.

Sintra - Séc. XIX


"Eis Cintra e o seu Éden resplandecente surgindo num labirinto multicor de montes e vales (...) Um convento empoleirado no topo de horríveis penhascos, os sobreiros brancos de geada cobrindo as escarpas da encosta, o musgo da serra crestado pelo sol abrasador, o vale sombrio de profundos arbustos inclinados, o meigo azul do mar sereno, as matizes alaranjadas que doiram o mais verde ramo, as torrentes que se precipitam das alturas para os vales, as vinhas lá no alto e por baixo ramos de salgueiros - tudo se combina num cenário grandioso de variedade e beleza."Childe Harold´s Pilgrimage", Canto I, Estrofes XVIII, XIX).

Na segunda feira, 12 de Julho de 1809, deslocaram-se numa caleche rumo Sintra, avistando o palácio de Marialva e o palácio e jardins de Monserrate, palácio onde anteriormente um outro viajante inglês, William Beckford havia vivido, agora deserto. A sua estadia em Sintra durou apenas quatro dias, ficando instalado no Lawrence Hotel.

Hobhouse: na terça feira, 13 de Julho: (...) "de burro, fomos a Nossa Senhora da Pena, ao Mosteiro de S. Jerónimo e ao Cork Convent (Capuchos?) na parte mais alta da região, com 17 franciscanos que não comiam carne nem bebiam vinho e se flagelavam. Descemos então até Colares, bela vila, com vinho abundante, clarete, e tornámos a Monserrate, um palácio só excedido pelo de Marialva em Sintra. Aí jantámos com o bom reverendo Turner. Noite em Sintra.

Na quarta feira, 14 de Julho de 1809, fomos, com Byron, e por sugestão da irmã de Marialva, visitar o seu palácio (Seteais), ricamente decorado em estilo inglês e estivemos na sala onde foi assinada a famosa Convenção de Sintra. Dissémos adeus a Sintra, onde havia no hotel vários hóspedes embriagados e uma mulher suja, irlandesa, nos entregou uma conta monstruosa."

A 16 de Julho Byron escrevia para Inglaterra: 
Ao sr. Hodgson, Lisboa, 16 de Julho de 1809.

"Até ao momento temos seguido a nossa rota, e visto todo o tipo de panorâmicas maravilhosas, palácios, conventos, etc. o que, estando para ser contado na próxima obra, Book off Travelers, do meu amigo Hobhouse, eu não me anteciparei, por agora, de forma antecipada e clandestina.. (...) Devo apenas observar que a vila de Cintra, na Estremadura, é talvez a mais bela do mundo.

Sinto-e muito feliz aqui porque adoro laranjas e falo em Latim macarrónico com os monges, que o compreendem, uma vez que é como o deles, e frequento a sociedade (com as minhas pistolas de bolso e nado ao longo do Tejo, e monto em burros ou mulas (...) Quão alegremente vivemos quando somos viajantes - se tivermos comida e vestuário. Mas, em sóbria tristeza, qualquer coisa é melhor que Inglaterra e eu estou infinitamente divertido com a minha peregrinação, até ao momento. Amanhã começaremos a percorrer cerca de 400 milhas até Gibraltar, onde embarcaremos para Melita (Melilla?) e Bizâncio. Uma carta para Malta aí me encontrará..."


Seteais Sec. XIX
Depois foi o regresso a Lisboa.


Três semanas depois da chegada a Lisboa, Byron e Hobhouse deixaram os aposentos de Buenos Aires em direcção ao cais; em breve atravessaram o Tejo a caminho da fronteira espanhola e do Mediterrâneo.


Após aquela primeira experiência em terra alheia, com eles seguia o inquieto Cavaleiro Haroldo, como um Ulisses sem Ítaca, romântico condenado a descobrir e a descobrir-se na peregrinação incessante pelos caminhos da poesia e da vida.

Com a devida vénia de "(Im)pertinências"


ESTADO DE SÍTIO: Um estado capturado 

Entre a multidão de capturas, continuam a destacar-se as da Ongoing - um polvo em crescimento acelerado. (*) Começou por ser uma criatura dos banqueiros do regime (os Espíritos) por interpostas pessoas (a dupla Vasconcelos & Mora) e aparentemente ganhou asas próprias e aspirações separadas. Continua a recrutar entre a tralha socrática, desde os espiões até ao pessoal político – os últimos foram Costa Pina, ex-secretário de estado do Tesouro e Guilherme Dray, ex-chefe de gabinete de Mário Lino. 

Recentemente, talvez a captura mais notória com mãozinha da Ongoing tenha sido a teia costurada pela coligação maçonaria/PS nas secretas, tornada visível com o trânsito dos espiões directamente para as empresas, levando consigo as informações. O escândalo do espiolhamento pelas secretas dos telefonemas do jornalista que investigava o caso, permitiu iluminar um pouco estas zonas sombrias.

Outro exemplo é o dos militares com as suas desavergonhadas «promoções por arrasto» que o governo socialista deixou apodrecer e legou ao governo actual.

O caso da chantagem velha de décadas do Bokassa das Ilhas aos governos centrais para lhes extorquir o dinheiro dos cubanos ficará possivelmente na história como um clássico em que o extorsionário insulta os extorquidos antes e depois de os extorquir. Em cinco anos a dívida da república das bananas duplicou e a criatura incha garantindo que «a Madeira tem muito património, graças a Deus (Deus tem aqui as costas largas), … mais do que suficiente para cobrir muitas vezes a sua dívida». Sugerindo talvez que deveria ser feita uma dação da sua obra nas ilhas em pagamento da dívida. Se fosse esse o preço para o país se ver livre dele e do seu bando de extorsionários seria prudente ponderá-lo.

(*) Sobre a Ongoing e o seu deus ex machina já se escreveu bastante no (Im)pertinências – ver por exemplo esta pesquisa.

"Actividades intensas"...

É notável a declaração de Marques Júnior que avança com a hipótese de "alguém, inclusivamente um funcionário dos serviços de informação, estar a agir à margem do funcionamento do sistema, fornecendo notícias ou informações a troco não sei de quê".

Ou seja: com esta conversa acho que querem dar a ideia ao cidadão comum de que tudo isto pode não passar de uma infracção de um qualquer funcionariozeco. É pá, vão dar banho ao cão!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Descobrindo Arganil...

É muito agradável dar uma olhada para o interior do jardim de infância de Arganil.
Adivinha-se que, por detrás desta arquitectura agradável, as crianças estarão nas "sete quintas".

Existem em Arganil muitas coisas com interesse. O que é preciso é olhar para elas

Alguém acredita?


Após o descrédito total em que as "secretas" estão envolvidas não mais será possível recuperar a credibilidade.

Alguém pode acreditar que a situação se resolve com inquirições, averiguações e processos que não levam a lado nenhum?

Depois de tudo o que de grave se tem constatado o que é preciso dar uma vassourada na instituição e meter na prisão os responsáveis.

Ou será que, mais uma vez, vai ficar tudo em "águas de bacalhau"?


Byron "no terreno"... 4

Lord Byron

Byron e Hobhouse instalaram-se numa hospedaria para os lados de Buenos Aires, zona residencial importante onde habitualmente se hospedavam  os representantes diplomáticos acreditados em Lisboa, burgueses endinheirados no comércio ou na finança e, naqueles tempos belicosos, os oficiais de comando das tropas inglesas estacionadas na capital. Da colina avistava-se Almada e os montes da margem sul, a amplidão do estuário onde fundeavam navios de todas as proveniências e a superfície ondulante dos telhados que desciam até ao Tejo. No dias seguintes os dois companheiros exploraram as imediações e partiram à descoberta da cidade.

Se se indagar que espécie de convívio Byron terá tido com os habitantes de Lisboa, a resposta passa pelas referências às visitas efectuadas aos conventos da capital. Com efeito, o simples contacto com os transeuntes apenas pode ter dado ao poeta uma ideia sumária da variedade de tipos de humanos que caracterizava a cidade. Desconhecendo a língua portuguesa à excepção de uma  ou outra imprecação obscena que diz ter aprendido, Byron estava privado do instrumento de comunicação que lhe teria permitido formar uma opinião menos superficial sobre os lisboetas. É com o clero do Mosteiro dos Jerónimos e do Convento de Jesus que os dois viajantes conseguem trocar algumas impressões, utilizando o Latim. Ficaram, porém, surpreendidos com a notória ignorância dos monges e Hobhouse regista que um deles, ao mostrar um quadro representando soldadesca munida de armas de fogo e canhões, disse tratar-de de uma batalha na antiga Roma... Mais grave do que a escassez de livros ingleses na bibliotecas monásticas lhes pareceu o facto de vários escritos de enciclopedistas franceses se encontrarem no rol de livros de consulta proibida. Portugal parecia ainda não haver ainda aberto as portas ao espírito renovador do racionalismo europeu.


Hobhouse
Durante as suas deambulações os dois companheiros tiveram ocasião de admirar o traçado neoclássico da Basílica da Estrela, de construção recente, e visitaram o Cemitério Inglês no propósito de prestar homenagem à memória do romancista Henry Fielding, que em 1754 demandara Lisboa e aqui viria a falecer; o tempo e a incúria haviam, porém, apagado vestígios da sepultura, impossível de localizar.

Na parte baixa, ao topo do Rossio, Bayron encontrou o Palácio da Inquisição, cuja influência tinha vindo a diminuir em finais do século XVIII, mas que ainda em 1809 mantinha certa actividade, s´o extinta com a revolução liberal. Um pouco mais a norte, situava-se o Teatro da rua dos Condes, construído no local de um velho pátio que o terramoto arrasara. Nesta sala de espectáculos acanhada e de precárias condições actuavam por essa altura companhias portuguesas  contratadas pelo empresário Manuel Baptista de Paula; sabe-se que Bayron e Hobhouse assistiram a récitas por mais de uma vez, mas, como seria de esperar de espectadores habituados ao nível das encenações britânicas, ficaram com uma impressão muito desfavorável acerca dos nossos actores e mostraram-se escandalizados com os movimentos lascivos de algumas danças.

A passagem de Byron pelos teatros lisboetas ficou, de resto, assinalada por um episódio lamentável que o próprio poeta relata numa nota a "Child Harold´s Pilgrimage":
"Uma vez, quando me dirigia ao teatro, às oito da noite, numa carruagem, acompanhado de um amigo (...) obrigaram-me a parar em frente de uma loja aberta; se não tivéssemos a sorte de ir armados não tenho a menor dúvida de que não teríamos sobrevivido para contar a aventura."
O amigo que com ele seguia era, evidentemente, Hobhouse em cujo diário de viagem se pode ler uma referência ao assalto, datada de 18 de Julho:
"Às nove e meia, fui com Byron numa caleche ao teatro da Rua dos Condes. Fomos atacados por quatro homens, a meio do caminho, regressámos a casa a pé."
Não restam dúvidas que os dois relatos tiveram origem no mesmo facto e a disparidade que se verifica na hora, pormenor irrelevante, pode atribuir-se a uma imprecisão do poeta que escrevia anos depois do acontecimento, enquanto Hobhouse fazia o registo diário de todas as peripécias ainda frescas na memória.

A menos que se admita uma outra cena de violência em Lisboa, a que não há a menor referência nas fontes, a aventura de 18 de Julho deve ter constituído o núcleo factual em torno do qual a fantasia donjuanesca de vários autores teceu a historieta de sabor melodramático que ficou indissoluvelmente ligado à visita de Lord Byron. Certa noite, à saída do Teatro de São Carlos, o poeta teria sido sovado por um marido ciumento, disposto a reabilitar a sua honra ultrajada. Alguns não hesitam mesmo em afirmar que foi esta desagradável experiência que determinou a hostilidade de Byron para com os portugueses nas estrofes de "Child Harold Pilgrimage".

Torna-se muito difícil aceitar esta interpretação simplista da obra e personalidade de Byron e isto por duas razões. Em primeiro lugar, nenhum dos autores que repetem e comentam o episódio se deu ao trabalho de indicar testemunha presencial ou fonte documental que possa abonar a veracidade ou sequer a verosimilhança do facto; e nem nos textos bayronianos nem no diário de viagem de Hobhouse existe o menor indício que possa levantar suspeita sobre devaneios sentimentais do poeta em Lisboa.

Para a sensibilidade byroniana do cavaleiro Haroldo, a passagem por Lisboa constitui uma revelação, ou pelo menos uma confirmação, de que o ideal romântico de vida não era realizável no espaço urbano. Nas estrofes do poema sobre a cidade perpassam as contradições entre a paisagem idealizada do lugar ameno de longe entrevisto e a decepção provocada pelo contacto imediato com a realidade dos locais e dos homens que não souberam aproveitar os dons espontaneamente oferecidos pela obra da Criação. A mais funda motivação do passo parece, pois, residir não nos supostos ressentimentos de Byron mas antes na consciência rousseauista do constante litígio entre a natureza e a civilização que, de resto, constitui um dos temas fundamentais glosados no poema. Defraudado na sua esperança, o protagonista voltar-se-á para os arredores de Lisboa e irá encontrar numa excursão às serranias de Sintra a possibilidade de experiência paradisíaca que a urbe negou.

Voltaremos...

domingo, 28 de agosto de 2011

Bayron e outros viajantes... - 3

Giuseppe Baretti
Se nos detivermos com alguma atenção sobre o que outros viajantes, ingleses ou não, disseram sobre  Lisboa, poderemos constatar que estes são praticamente unânimes  no elogio às belezas da cidade vista do rio.
Vejamos algumas das impressões desses viajantes e o que eles pensavam das clássicas comparações com Nápoles e Constantinopla:

Baretti (1762): "A vista é das mais grandiosas e pitorescas do mundo. Entre as cidades que visitei nenhuma a pode igualar, a não ser Génova com os seus subúrbios... O conjunto, quando observado do meio do rio merece a obra de algum benévolo demiurgo."

Semple (1805): "Seja, porém, como for, o que não há dúvida é que a situação é admirável; e a cidade, cheia de igrejas, palácios, zimbórios, pináculos, erguendo-se da água até escalar os cimos de numerosas colinas oferece da baía uma das mais nobres que podem imaginar-se, e superior talvez à de qualquer outra cidade do mundo... mas ao desembarcarmos a ilusão desvanece-se..." 

Lady Emmeline Wortley


Lady Emmeline Wortley (1854): "Poucas capitais há na Europa que se lhe possam aproximar, no pitoresco da situação...É, sem dúvida, um panorama soberbo... Em alguns aspectos Lisboa é muito inferior a Nápoles, mas em outros é talvez superior."

Armand Dayot (1887): "A impressão desagradável que se experimenta ao desembarcar nos cais não faz senão aumentar, à medida que se penetra na cidade alta, subindo com dificuldade a íngreme ladeira das suas ruas, mal calçadas quase sempre. Que é feito então dessa maravilhosa cidade de que admirávamos, no meio do Tejo, as brancas casas deslumbrantes e os jardins verdes e floridos? Vagueio a cada passo em labirintos nauseabundos, entre fachadas sem elegância e dum pardo sujo. Por detrás de altos muros, os jardins desapareceram; aqui e ali algumas praças públicas orladas de árvores poeirentas ornadas  de estátuas grotescas... as igrejas de Lisboa parecem-se quase todas com as tristes igrejas italianas do século XVII; o mesmo estilo rocócó, a mesma falsa magnificência interior, os mesmos excessos decorativos... Quanto aos três palácios régios da Ajuda, Necessidades e Belém, são de uma desesperadora banalidade arquitectónica... Lisboa mereceria ser denominada a capital do mau gosto."

Em 1817, em carta data de Veneza, a 11 de Abril, Byron dirigindo-se a Moore: "Não vou a Nápoles. É apenas a segunda das vistas de mar em toda a Europa, e eu vi a primeira e a terceira, isto é, Constantinopla e Lisboa. Esta, a bem dizer, é um panorama fluvial, mas colocam-na abaixo de Istambul e Nápoles, e acima de Génova."

Conforme podemos constatar pelos relatos dos viajantes  sobre Lisboa de outrora temos ocasião de verificar que eles são praticamente unânimes em elogiar as belezas da cidade vista do rio. A uns agrada sobremaneira a linha sinuosa das colinas e vales, a outros fascina o colorido das vinhas e pomares dos arrabaldes, outros ainda deleitam os olhares na brancura do casario disperso, entrecortado pelas torres das igrejas.

Não se justifica, portanto, atribuir a Byron que na sua aparente contradição face ao que viu do rio e o que depois encontrou dentro da cidade, qualquer revanchismo balofo que tenha porventura a ver com o ajuste de contas de um marido ciumento.


Voltaremos...

sábado, 27 de agosto de 2011

Quando vou a Arganil...


Quando vou a Arganil nunca perco a oportunidade de visitar o seu agora melhorado parque. Além da poesia gravada em pedras de xisto,  disseminadas ao longo do seu imenso espaço, surgem recantos onde se vislumbra a vontade de embelezar...




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Lord Byron em Lisboa - 2

Pode talvez dizer-se que estadia de Byron em Portugal se deveu a uma mera casualidade. De acordo com os planos de viagem, previamente estabelecidos por si e pelo seu amigo John Cam Hobhouse, o seu destino inicial  seria o Mediterrâneo Oriental passando por Gibraltar com destino ao Oriente mas, por circunstâncias várias, restou-lhes a alternativa de tomar lugar num veleiro destinado a Lisboa para  posteriormente daqui  partir com destino a Gibraltar.

Inspirado na tradição da juventude rica da inglaterra setecentista, que em regra completava a sua formação académica de índole livresca com uma peregrinação ao espaço geográfico onde a cultura ocidental mergulhava raízes, Byron projectava há muito essa viagem. Por seu turno Hobhouse seu amigo e companheiro de viagem partilhava o mesmo interesse, reservando para si o papel de cronista, munindo-se de tinta, penas e cadernos a fim de registar novas impressões, com vista à publicação de um livro de viagens após o regresso. O manuscrito desse diário, felizmente conservado, constitui não só um importante documento biográfico como a principal fonte para a investigação sobre a visita de Byron ao nosso pais.

Quando 7 de Julho de 1809 o veleiro "Princess Elisabeth" entrava na barra do Tejo  dois factos históricos de vastas repercussões conjugavam-se para determinar as coordenadas paisagísticas físicas e humanas da Lisboa a que Byron chegava.

A cidade ressentia-se ainda dos efeitos devastadores da catástrofe de 1755 cuja devastação, em boa medida, havia sido ultrapassada pelos trabalhos de reconstrução da baixa pombalina que, no lugar dos becos e ruelas tortuosas da cidade seiscentista, tinham implantado os modelos geométricos da arquitectura urbana do racionalismo iluminado, impondo ao espaço ribeirinho os valores de funcionalidade e utilitarismo próprios da mentalidade burguesa. Apesar disso não podia passar despercebido a qualquer viajante mesmo, já em princípios do século XIX, o grau de provisoriedade que em algumas zonas da cidade. Daí que a Lisboa de Byron patenteasse uma singular coexistência de tradicionalismo e inovação, nem sempre em síntese harmónica.

Por outro lado a invasão napoleónica de 1807, a retirada da corte para o Brasil, a intervenção armada da Grã-Bretanha, as movimentações estratégicas do exército anglo-português e as sequelas amargas da Convenção de Sintra criavam um clima de notória instabilidade político militar que afectava profundamente a paisagem humana da capital.

Voltaremos a Byron...


26 de Agosto de 1789... (Só para lembrar)

DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

Os representantes do Povo Francês constituídos em Assembleia Nacional, considerando, que a ignorância o olvido e o menosprezo aos Direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos governos, resolvem expor uma declaração solene os direitos naturais, inalienáveis, imprescritíveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente a todos os membros do corpo social, permaneça constantemente atenta a seus direitos e deveres, a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo possam ser a cada momento comparados com o objetivo de toda instituição política e no intuito de serem pôr ela respeitados; para que as reclamações dos cidadãos fundamentais daqui pôr diante em princípios simples e incontestáveis, venham a manter sempre a Constituição e o bem-estar de todos.
Em conseqüência, a Assembleia Nacional reconhece e declara em presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do Homem e do Cidadão:


I - Os homens nascem e ficam iguais em direitos. As distinções sociais só podem ser fundamentadas na utilidade comum.

II - O fim de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis ao homem.

III - O princípio de toda a Soberania reside essencialmente na Nação; nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não emane diretamente dela.

IV - A liberdade consiste em poder fazer tudo quanto não incomode o próximo; assim o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem limites senão nos que asseguram o gozo destes direitos. Estes limites não podem ser determinados senão pela lei.

V - A lei só tem direito de proibir as ações prejudiciais à sociedade. Tudo quanto não é proibido pela lei não pode ser impedido e ninguém pode ser obrigado a fazer o que ela não ordena.

VI - A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos tem o direito de concorrer pessoalmente ou pôr seus representantes à sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer ela proteja , quer ela castigue. Todos os cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, sendo igualmente admissíveis a todas as dignidades, colocações e empregos públicos, segundo suas virtudes e seus talentos.

VII - Nenhum homem poder ser acusado, sentenciado, nem preso se não for nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela tem prescrito. O que solicitam, expedem, executam ou fazem executar ordens arbitrárias, devem ser castigados; mas todo cidadão chamado ou preso em virtude da lei devem obedecer no mesmo instante; torna-se culpado pela resistência.

VIII - A lei não deve estabelecer senão penas estritamente e evidentemente necessárias e ninguém pode ser castigado senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada.

IX - Todo homem sendo julgado inocente até quando for declarado culpado, se é julgado indispensável detê-lo, qualquer rigor que não seja necessário para assegurar-se da sua pessoa deve ser severamente proibido pôr lei.

X - Ninguém pode ser incomodado pôr causa das suas opiniões, mesmo religiosas, contanto que não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei.

XI - A livre comunicação de pensamentos e opinião é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode pois falar, escrever, imprimir livremente, salvo quando tiver que responder do abuso dessa liberdade nos casos previstos pela lei.

XII - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita da força pública; esta força é instituída pela vantagem de todos e não para a utilidade particular daqueles aos quais foi confiada.

XIII - Para o sustento da força pública e para as despesas da administração, uma contribuição comum é indispensável. Ela deve ser igualmente repartida entre todos os cidadãos em razão das suas faculdades.

XIV - Cada cidadão tem o direito de constatar pôr ele mesmo ou pôr seus representantes a necessidade de contribuição pública, de consenti-la livremente, de acompanhar o seu emprego, de determinar a cota, a estabilidade, a cobrança e o tempo.

XV - A sociedade tem o direito de exigir contas a qualquer agente público de sua administração.

XVI - Qualquer sociedade na qual a garantia dos direitos não está em segurança, nem a separação dos poderes determinada, não tem constituição.

XVII - Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, ninguém pode ser dela privado, a não ser quando a necessidade pública, legalmente reconhecida, o exige evidentemente e sob a condição de uma justa e anterior indemnização.

Nesta data foi votada esta Declaração mas para muitos senhores está tudo no esquecimento...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lord Byron em Lisboa - 1

Byron, destacado poeta britânico e uma das
 mais influentes figuras do Romantismo
Lord Byron nasceu em Londres a 22 de Janeiro de 1788. Estudou no colégio de Harrow e na Universidade de Cambridge. A publicação do seu primeiro livro de poemas "Horas de Ócio" surge em 1807. Em 1809 ocupou um lugar na Câmara dos Lordes e passou dois anos em Espanha, Portugal e Grécia. Em 1812 conquistou a fama com a publicação dos primeiros cantos de "Childe Harold", poema que narra as suas viagens pela Europa. Em 1818 deixa a Inglaterra e rumou a Génova. Entre os anos de 1816 e 1819 viveu em Veneza. Passou dois anos a percorrer a Itália, até 1821, quando se instala em Pisa. Fundou em 1822 a revista "The Liberal" com os poetas Percy Bysshe Shelley e Leigh Hunt. Quando lhe chegam notícias da rebelião dos gregos contra os turcos integrou-se nos insurgentes em julho de 1823 em Missolonghi. Faleceu (*) a 19 de Abril de 1824. 













No primeiro Canto do Poema "Childe Harold Pilmigrage", em 1812,  Byron dá voz literária às impressões colhidas, durante a sua passagem por Portugal, tres anos antes. "Oh! quantas maravilhas Lisboa a princípio nos revela! A sua imagem espelha-se nas águas do nobre Tejo, que a fantasia dos poetas cobre de areias de oiro e onde agora estão fundeados muitos navios poderosos, pois Albion aliou-se aos Lusitanos e acorreu em seu auxílio" (Childe Harold´s Pilgrimage", Canto I, Estrofe XVI).

Não obstante, esta primeira atitude favorável não parece ter durado muito. Os grupos de mendigos que importunavam os viajantes recém chegados, o aspecto pouco asseado de alguns transeuntes e os primeiros contactos com uma cidade que ainda não dispunha de estruturas sanitárias mínimas cedo indispuseram Byron contra os lisboetas, cujo pretenso orgulho e ignorância são objecto da sua invectiva:

"Quem entrar nesta cidade que, resplandecendo ao longe, parece celestial, vagueia pelas ruas decepcionado com tantas coisas desagradáveis aos olhos do forasteiro". ( Canto I Estrofe XVII de Chgilde Harold´s Pilmigrage).

Que terá levado Byron a entrar nesta aparente contradição? Se se indagar que espécie de convívio Byron terá tido com os habitantes de Lisboa, a resposta passa pela referência às visitas efectuadas aos conventos da  capital. Com efeito, o simples contacto com os transeuntes apenas pode ter dado ao poeta uma ideia sumária da variedade de tipos humanos que caracterizava a cidade: vendedores ambulantes apregoando em língua estranha, aguadeiros galegos que palmilhavam os empedrados sob o peso dos barris, soldados de guarnição que erravam por locandas, lojistas em bocejo pelas portas no tédio quente de Julho. Desconhecendo a língua portuguesa, à excepção de uma ou outra imprecação obscena que diz ter aprendido, Byron estava privado do instrumento de comunicação que lhe teria permitido formar uma opinião menos superficial dos lisboetas.


(*) Pela grande  influência da Grécia  no período Clássico, a "Revolução Grega" (1821 a 1829), contra o Império Otomano, adquiriu desde logo  uma grande simpatia por toda a Europa. 
Lord Byron passou algum tempo na Albânia e na Grécia angariando fundos e suprimentos a favor da revolução, mas faleceu de febre em Mesolongi em 1824. A sua morte teve muita repercussão na Europa acrescentando muito apoio à causa grega, influenciando, inclusivamente, a intervenção directa no conflito das potências ocidentais.


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